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Liga Convida: Isabela Ribeiro

Atualizado: 27 de ago. de 2023

No início do mês de julho, nos dias 5 e 6, aconteceu em Galway na Irlanda, o evento “2013-2023: 10 anos da Declaração de Galway – Celebrando a década de cooperação científica marinha por todo Oceano Atlântico, Nosso Recurso Comum”.


A celebração ocorreu na mesma cidade na qual a Declaração foi assinada, especificamente na University of Galway, e foi coorganizada pelo Governo Irlandês e a Comissão Europeia, reunindo pesquisadores, parceiros e outros atores importantes de países fronteiriços ao Oceano Atlântico. Eu, Isabela Ribeiro, fui convidada para estar lá e representar os Profissionais do Oceano em Início de Carreira (ou ECOPs para a sigla do termo em inglês) brasileiros e vou contar para vocês um pouco sobre essa importante declaração, do porquê ela é importante, o que aconteceu nesse evento de 2 dias e quais são os planos para o Oceano Atlântico na próxima década.


A Declaração de Galway foi um acordo de cooperação firmado entre pesquisadores da União Europeia, Estados Unidos e Canadá no ano de 2013. O acordo tinha como objetivo aumentar o conhecimento científico sobre o Oceano Atlântico, através de esforços interdisciplinares e pesquisa internacional colaborativa, para fomentar a gestão sustentável desse ecossistema. Desde a sua criação, a Declaração de Galway obteve reconhecimento global e vem catalisando iniciativas, projetos e desenvolvimentos de políticas públicas que buscam endereçar questões urgentes das ciências do mar.


Além de impulsionar a restauração de ecossistemas marinhos, também atua na proteção de comunidades costeiras frente as mudanças climáticas, promove avanços em sistemas de pesquisa e observação do oceano e alinha programas e estratégias para garantir a sustentabilidade do Atlântico, a Declaração de Galway originou novos e imprescindíveis acordos diplomáticos entre pesquisadores como: Declaração de Belém sobre a Cooperação em Pesquisa e Inovação no Oceano Atlântico (2017) e a Aliança de Pesquisa e Inovação de Todo o Oceano Atlântico (AAORIA - 2022).


Ambos os acordos potencializam e ampliaram o escopo internacional da Declaração de Galway, já que em 2017, países do Atlântico Sul, como Brasil, Argentina e África do Sul passaram a integrar o rol de colaboradores, trazendo uma dimensão “polo a polo” de todo o Atlântico. Em 2022, com a criação de uma aliança de pesquisa e inovação para o Atlântico, uma nova escala de cooperação em pesquisa e ciência entre países da União Europeia, Brasil, Canadá, Cabo Verde, Marrocos, África do Sul e Estados Unidos foi estabelecida.


Nota-se que muito avanços ocorreram na última década e, nada mais justo que uma celebração para refletir sobre o quanto avançamos, mas também sobre o quanto precisamos e queremos avançar na sustentabilidade do Atlântico na próxima década. A programação para os dois dias de evento foi intensa e recheada de diversos temas que foram desde o impacto da poluição por plástico até sobre o mapeamento do mar profundo. O Brasil teve um importante protagonismo em diversas ações-piloto desenvolvidas com outros parceiros da AAORIA, como:

All-Atlantic Atlantic Ocean Capacity Development and Training Platform (AA-TP), uma plataforma para desenvolver iniciativas e cursos de capacitação para cientistas e técnicos em início de carreira na ciências do mar (https://allatlanticocean.org/all-atlantic-joint-actions/all-atlantic-ocean-capacity-development-and-training-platform/);

All-Atlantic Blue Schools Network (AA-BSN), uma rede de escolas de diversos países atlânticos que buscam aumentar a cultura oceânica para um mundo sustentável (https://allatlanticblueschools.com/);

All-Atlantic Marine Biotechnology Initiative (AA-BIOTECMAR), uma iniciativa destinada ao desenvolvimento de tecnologias novas e emergentes, incentivando o uso sustentável dos recursos marinhos (https://allatlanticocean.org/all-atlantic-joint-actions/all-atlantic-marine-biotechnology-initiative/);

All-Atlantic Data Enterprise 2030 (AA-DATA2030), uma plataforma que congregará todos os dados coletados em pesquisas no Oceano Atlântico (https://allatlanticocean.org/all-atlantic-joint-actions/all-atlantic-data-enterprise-2030).

Outro momento relevante do evento foram as sessões de diálogo intergeracional entre EOP - Experienced Ocean Professionals e ECOPs. Os especialistas de diferentes idades e backgrounds foram colocados juntos em uma sala para discutir possíveis iniciativas que a AAORIA pudesse subsidiar nos próximos anos, tratando das prioridades de pesquisa e inovação estabelecidas na Declaração de Washington:

(i) mudanças climáticas e seus impactos no oceano e região polar;

(ii) proteção e conservação dos ecossistemas e biodiversidade marinha;

(iii) a poluição por plástico no mar;

(iv) pesca e aquacultura sustentáveis; e

(v) mapeamento do fundo do oceano.


O debate perdurou por uma tarde e promoveu um super engajamento entre os ECOPs, que já estão se articulando para dar continuidade às ações propostas por eles durante o evento.

Sessão de diálogo intergeracional entre profissionais seniores e em início de carreira, em Galway, Irlanda

Ademais, o evento também ressaltou a urgência na transição energética para frear as mudanças climáticas, assim como a necessidade de promover capacitação, voz e acesso a nova geração de ECOPs, e da importância de se endereçar as diferenças institucionais entre países do norte e países do sul.


Ao final, fica o entendimento de que avançamos muito na última década, mas que há muito trabalho e desafios pela frente. Não será fácil, porém é muito reconfortante saber que há dezenas de pessoas, cientistas, ECOPs, governantes e ativistas pensando e trabalhando juntos por um Oceano Atlântico mais saudável e sustentável.


Sobre a autora:

Isabela Ribeiro é Oceanóloga e Mestra em Gerenciamento Costeiro pela Universidade Federal do Rio Grande. Atualmente é doutoranda em Ciência Ambiental no Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, onde pesquisa temas relacionados a poluição por plástico, políticas públicas e governança do oceano, e gestão para as mudanças climáticas. Desde a graduação tem profundo interesse pela relação ser humano-natureza e seus impactos, e busca através de seu trabalho e pesquisa a construção de um mundo mais sustentável e justo para todos os seres.


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