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Isabela Moreira

Liga da Década: cultura oceânica com Jana del Favero


GT-DÉCADA

Desafio: Cultura Oceânica

Assegurar que vários valores e serviços que o oceano aporta ao bem-estar humano, à cultura e ao desenvolvimento sustentável sejam totalmente compreendidos, e identificar e ultrapassar quaisquer barreiras às mudanças de comportamento necessárias para uma alteração gradual da relação da humanidade com os oceanos.


Entrevistada: Jana del Favero

Sou Bióloga pela Universidade Federal de Lavras (bem longe do mar!), mestra e doutora em Oceanografia pela Universidade de São Paulo e pela Universidade de Massachusetts (nossa, me formei lá em 2016 e ainda tenho que ver se soletrei certinho, falar então, impossível!). Não sei ao certo desde quando estou na Liga, mas acredito que desde o comecinho, pois assim que soube desse movimento lindo eu já me inscrevi para participar. Ainda estou buscando meu espacinho no sol, amo dar aulas, amo pesquisar, amo comunicar sobre o oceano. Ah, amo também trilhas, peixes, papos em botecos e bolo de cenoura com café.

  • Como é a sua atuação profissional no momento?

Atualmente sou pesquisadora de pós-doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, atuando no âmbito da Rede Abrolhos. Mas como sou inquieta, nas horas vagas sou editora-chefe da plataforma de divulgação científica Bate-Papo com Netuno, que além de divulgar as ciências do mar, discute questões de gênero na academia. Recentemente também me tornei autora de livros infantis. Tudo começou quando minha sobrinha me pediu para contar uma história do Suvaco, meu cachorro, para ela dormir. Como não sei falar de outra coisa que não envolva o oceano, comecei a narrar o Suvaco explorando os diferentes ambientes marinhos. E assim surgiu três livrinhos de disseminação da cultura oceânica para crianças: dois já foram publicados, o terceiro está sendo ilustrado e confesso que já tenho outros guardados na cachola (rs).


  • Qual o seu vínculo com o oceano e como ele começou?

Acredito que meu vínculo tenha iniciado pela ciência. Sempre gostei de assistir programas de cientistas (como o Mundo de Beakman) e fazer os experimentos. Falava que seria cientista para descobrir a cura da AIDS. Tive apenas um “desvio” na trajetória quando voltei do intercâmbio cultural na Nova Zelândia. Estava tão deslumbrada que voltei e prestei vestibular para Turismo. Cheguei a me matricular e não cursei nem um mês, pois logo o lado biológico da força me chamou de novo e voltei pro cursinho para prestar Ciências Biológicas. Mesmo estudando longe do mar, era apaixonada pelo oceano e queria aprender mais sobre, então buscava cursos e estágios próximos da água salgada. Com o tempo aquele vínculo que era de paixão foi se tornando profissão.


  • Qual foi a sua motivação e suas impressões de ter participado das oficinas sub-nacionais de preparação para a Década do Oceano no Brasil? Em qual GT e região você participou?

Sabe a música “entrei de gaiato no navio”? Então, foi assim comigo. Na verdade, no meio de 2019 a Jana Bumbeer (que também está aqui na Liga) me chamou para palestrar em um evento que a Fundação Grupo O Boticário estava organizando no Museu do Amanhã. Logo em seguida veio a Oficina Regional do Atlântico Sul, e todo mundo que palestrou nesse evento, que era focado em comunicação, foi convidado para participar do Grupo de Trabalho 7, focado justamente em tornar o oceano inspirador e engajante. Foi a primeira vez que participei de um processo colaborativo desse tipo e sai de lá bem encantada e animada. A animação só ficou maior quando o Ronaldo Christofoletti me convidou para participar do Comitê de Gestão da Década no Brasil poucos meses depois. Participei de duas das cinco oficinas sub-nacionais, a do sudeste e a do centro-oeste. Como disse, era novata nesses processos de construção em conjunto e, às vezes, já queria sair com o resultado pronto, finalizado. Demorou um pouco para eu aprender a ter paciência e entender que um processo feito com muitas mãos é mais demorado, mas ao mesmo tempo, se obtém melhores resultados e agrada mais pessoas. Diria que estou aprendendo muito com a Década do Oceano.


  • Na sua visão quais os principais desafios e oportunidades para alcançarmos/divulgarmos a Cultura Oceânica no Brasil?

Eu vejo muitas iniciativas da educação não-formal aflorando. O próprio Bate-Papo com Netuno e os livros do Suvaco são exemplos. Mas, por sorte, não são os únicos: diversos projetos de pesquisa e várias redes estão criando livros, podcasts, cartilhas, sites etc. Todas essas iniciativas são válidas, mas precisamos também atuar na educação formal. Recentemente participei da coautoria de um artigo científico a convite da pesquisadora Carmen Pazotto (que por sinal conheci na oficina da região sudeste) no qual foi feito um diagnóstico dos currículos escolares brasileiros. O manuscrito ainda não foi publicado, mas um pouco dos resultados pode ser obtido no post “Cultura oceânica: Por que temos que falar sobre isso nas escolas?” que a Carmen escreveu para o Bate-Papo com Netuno. Apesar de crescente, esse estudo mostra que a temática oceano é pouco abordada nos nossos currículos escolares e poderia ser melhor trabalhada. Incluir temas e propostas nas bases curriculares é algo bem trabalhoso e demorado. É preciso treinar nossos professores, que muitas vezes já estão sobrecarregados. No ano passado o Maré de Ciência realizou o I Fórum Brasileiro de Jovens Embaixadores e Embaixadoras do Oceano, realizando atividades diretamente com escolas públicas e privadas. Eu tive a honra de participar como debatedora e ver os alunos engajados, apresentando seus projetos ligados ao oceano, foi emocionante. Precisamos de mais ligações da educação não-formal com a formal para alcançarmos a Cultura Oceânica no Brasil.


  • O que você espera da Década do Oceano?

Esperar que todos os sete resultados sejam alcançados é sonhar demais? Com certeza sim. Mas eu digo sempre que são metas bem ambiciosas que servem justamente para nos motivar. Eu gosto muito de fazer trilha e subir montanhas, já estive inclusive no Campo Base do Everest. E sabe o que a montanha mais te ensina? Que o mais importante não é a chegada no topo, e sim os aprendizados e os passos realizados pelo caminho. Isso é bem clichê, eu sei, mas é o que eu mais espero com a Década: 10 anos de aprendizados, reflexões e ações em pró do oceano, não focando unicamente no que alcançaremos no final desses 10 anos, mas sim no que realizaremos ao longo do caminho.



Convido a visitarem o site do Bate-Papo com Netuno (https://www.batepapocomnetuno.com/) e nos seguir na sua rede social predileta. E também a conhecer o instagram do Suvaco para saber um pouco mais do trabalho para as crianças que ando fazendo por lá (@suvaco_cao).



Quem se interessou nos livrinhos, eles podem ser adquiridos em: https://mundosoceanicos.lojavirtualnuvem.com.br/produtos





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