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LIGA CONVIDA: Oceano e pandemia. E agora?

  • Foto do escritor: Paulina Chamorro
    Paulina Chamorro
  • 29 de jun. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 2 de jul. de 2020

Ana Paula Prates

Dra. em Ecologia

Conselheira da Liga das Mulheres pelos Oceanos

Vamos deixar algo claro: a pandemia do COVID-19 não é um azar, ela não está acontecendo por acaso. É uma consequência direta de como lidamos com a natureza. E o que a pandemia nos ensina é o quanto realmente estamos interconectados e quão intimamente nossa saúde depende da saúde do ambiente em geral[1].

No início desse processo de isolamento social ao qual fomos impostos por ela, a pandemia, o mundo finalmente parou. Quem diria que isso fosse possível, né? O mundo capitalista, logo ele, parou e deu uma pequena pausa ao sistema que sobrecarrega o planeta. Começamos a ver imagens de cidades poluídas com o céu mais limpo, águas mais transparentes, peixes, tartarugas, golfinhos reaparecendo em locais antes bem poluídos nos trazendo uma visão esperançosa e até mesmo romântica de que teríamos jeito.

Foi como se a pandemia significasse um suspiro para a natureza que estaria finalmente tendo uma chance de se curar.

Mas... calma lá. Não é bem isso que estamos vendo nos oceanos. Ou que não estamos vendo.

Várias imagens divulgadas por diversos sistemas globais de monitoramento remoto têm mostrado um enorme avanço de pesca ilegal, inclusive em áreas proibidas[2], com a diminuição da fiscalização e até mesmo da obrigatoriedade de as grandes empresas de pesca embarcarem observadores de bordo em suas embarcações. Por outro lado, um enorme acúmulo de petroleiros “estacionados” em todas as regiões do oceano, esperando poder desembarcar “sua mercadoria” com um mercado aquecido novamente, significando uma bomba relógio que pode estourar em algum momento, em algum lugar desse imenso oceano[3]. Lembram do passado recente que voltou a nos assombrar, certo? Óleo, litoral nordestino...Lembrou?Foi o maior desastre ambiental já registrado no litoral brasileiro com o derramamento de petróleo no litoral do nordeste brasileiro que se estendeu por mais de 2.500 km da zona costeira entre o Pará e o norte do Estado do Rio de Janeiro, atingindo 11 estados, 130 municípios, 1009 localidades e mais de 40 unidades de conservação marinhas.



Além disso, durante a pandemia, estudos já demonstram que o lixo plástico, que vinha sendo paulatinamente banido de alguns países, cresceu enormemente com a questão do isolamento social, porque as pessoas estão solicitando mais serviços de entrega e usando mais produtos descartáveis, além do descarte de EPIs como máscaras e luvas. Em alguns países como na Tailândia (um dos cinco países que mais asfixiam os oceanos com plástico), um estudo recente demonstrou aumento de 62% de desperdício de plástico desde abril/2020[4].





Apenas alguns meses atrás, os estados dos Estados Unidos começavam a implementar proibições de sacolas plásticas e limitar a disponibilidade de canudinhos, por exemplo. Mas como o vírus se espalhou pelos EUA, os estados reverteram as proibições de sacolas plásticas, as lojas estão proibindo o uso de sacolas reutilizáveis ​​e os restaurantes estão recorrendo a utensílios descartáveis diante da pandemia. Isso fora o descarte de luvas, mascaras e outros EPIs que estão se tornando uma nova fonte de poluição oceânica em vários países asiáticos.

Recentemente, com o verão europeu já acontecendo, mergulhadores se depararam com os vestígios da pandemia encontrando máscaras e luvas nas águas da Riviera Francesa[5]. As fotos que ilustram este texto são da Opération Mer Propre justamente desta ação de limpeza.

Cuidamos muito mal do nosso planeta azul. O oceano é um regulador fundamental da vida e da bioquímica do planeta e está agonizando com as mudanças climáticas. Dependemos dele para viver, mas a crise climática está posta e cada meio grau importa. Nos últimos 200 anos, o oceano absorveu um terço do CO2 produzido pelas atividades humanas e 90% do excesso de calor no sistema climático.

Estudos divulgados em janeiro de 2020, demonstram que a temperatura média do oceano atingiu a marca mais alta já registrada e o ritmo com que eles estão esquentando está se acelerando. Os cientistas calcularam que, nos últimos 25 anos, os oceanos absorveram o equivalente ao calor gerado por 3,6 bilhões de explosões como a da bomba de Hiroshima - para atingir esse máximo de temperatura, o oceano teria que ter absorvido 228 sextilhões de joules de calor. O estudo é assinado por 14 cientistas de 11 institutos de vários países do mundo e indica que as temperaturas mais quentes foram registradas entre a superfície do mar e os 2 mil metros de profundidade[6].

Por isso tudo, a ONU lançou no dia 8 de junho deste ano a Década dos Oceanos. A ONU dedica e espera que nos próximos dez anos a humanidade aumente o conhecimento sobre esse único oceano, que cobre 71% do planeta, e proteja melhor essa imensidão, que absorve um terço do gás carbônico produzido pela atividade humana, retém o aquecimento global e serve à subsistência direta de bilhões de pessoas. A década fornecerá uma oportunidade única para que as nações trabalhem juntas para produzir uma ciência oceânica global necessária para apoiar o desenvolvimento sustentável do oceano (planeta) que compartilhamos.

O Brasil entra na década, no entanto, com o registro de vários desmontes nas políticas públicas ambientais, com o maior acidente ocorrido no nosso litoral ainda sem saber a origem e nem implantar um sistema de monitoramento adequado, além do maior índice de desmatamento registrado nos últimos anos.

Essa pandemia nos trouxe uma oportunidade amarga e triste de rever nosso comportamento, se nada for feito vamos sair dela pior do que entramos e correndo o sério risco de ser essa apenas uma amostra grátis do pior que há por vir.

* Com colaboração de Paulina Chamorro



[1] Sugestão: assistam a série – “A pandemia nossa de cada dia” https://www.youtube.com/watch?v=hvLjALzaJ44&t=21s [2] https://www.theguardian.com/environment/2020/may/01/stealth-plunder-of-argentinian-waters-raises-fears-over-marine-monitoring [3] https://www.theguardian.com/business/2020/apr/19/supertankers-drafted-in-to-store-glut-of-crude-oil-coronavirus [4] https://www.publico.pt/2020/05/11/p3/noticia/tailandia-atencoes-estao-voltadas-covid19-desperdicio-plastico-aumenta-1916041?utm_source=notifications&utm_medium=web&utm_campaign=1916041 [5] https://conexaoplaneta.com.br/blog/mergulhadores-encontram-mascaras-e-luvas-de-protecao-nas-aguas-da-riviera-francesa/ [6] Cheng, L., and Coauthors. 2020: Record-setting ocean warmth continued in 2019. Adv. Atmos. Sci., 37(2), 137−142, https://doi.org/10.1007/s00376-020-9283-7

13 Comments


Angelika Wartina
Angelika Wartina
Apr 11

This post does a wonderful job of shedding light on the often-overlooked effects of global events—like the pandemic—on our environment, particularly our oceans. The way it connects human activity to environmental outcomes really emphasizes the urgent need for awareness and sustainable practices. It’s a powerful reminder that even indirect actions can have long-term consequences on marine life and ecosystems.


In much the same way, students can feel overwhelmed by the ripple effects of such global disruptions, especially when it comes to managing their academic responsibilities. That’s where TAFE assignment help becomes incredibly valuable. It offers students the expert support they need to stay on track, meet their deadlines, and continue their education without compromising on quality—even during uncertain times. Balancing environmental…

Edited
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Arthur Morgan
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