Saiu no jornal G1 uma notícia que destaca que banhistas estão confundindo as caravelas-portuguesas (Physalia physalis) com preservativos (Caravelas-portuguesas assustam banhistas e são confundidas com ‘camisinhas’ no litoral de SP).
Nas redes sociais isso surpreendeu e muitas pessoas acharam engraçada a confusão, destacaram que a falta de acesso a educação sexual é o que faz essa percepção. Mas queria apontar que isso é um sinal de outras coisas tão preocupantes.
O que não vemos na praia
O turismo de praia é coisa antiga da humanidade e cada vez mais temos um fluxo maior de pessoas que vão as praias para relaxar, se divertir, fazer exercícios, socializar, etc… Com esse aumento de pessoas na praia esse ambiente vem sofrendo mais impactos.
As maria-farinhas são perseguidas por cachorros de rua ou que os banhistas levam à praia. Estrelas do mar são pescadas para decoração. Pepinos do mar recolhidos para exportação para mercados asiáticos. Há menos peixes de praia por conta da pressão pesqueira e poluição.
Isso só pra citar alguns exemplos, pois tem impactos que não são tão visíveis aos olhos humanos. Algo muito preocupante é a compactação da areia da praia, que destrói túneis, ovos, animais e alimento deles… Seja pelo pisoteamento feito por centenas de pessoas andando na areia ou por carros que trafegam na praia.
Representação de alguns organismos que habitam a faixa de areia. Imagem de doi.org/10.3354/meps11…
Carros estacionados na areia em Picinguaba, Ubatuba, litoral norte de SP – Diego Padgurschi/Folhapress https://folha.com/0dairp6u
Portanto, as pressões sobre diferentes organismos que frequentam ou frequentavam as praias fizeram esses animais migrarem ou suas populações diminuírem bastante. Tá muito difícil pra eles….
O que não falta na praia
O outro lado da matéria tem outro ponto triste: o lixo. É algo tão comum que já consideramos normal ver esses resíduos sólidos na praia: canudo, bituca de cigarro, embalagem de comida, etc… Uma colega minha usava nas atividades de educação marinha uma foto de um castelo de areia enfeitado com embalagem de bal. Hoje em dia crianças estão brincando com o lixo da praia.
Foto de Allison Hack, que ganhou um concurso fotográfico de conscientização sobre o tabaco (fonte: https://www.santacruzsentinel.com/2019/04/17/santa-cruz-homeless-woman-earns-tobacco-awareness-photo-contest-award/)
Quando temos essa situação em que as praias estão sofrendo tanto degradação ambiental, o lixo é abundante e as pessoas tem pouco conhecimento sobre o ambiente praial, não é de se surpreender que as pessoas pensem antes que algo diferente seja um lixo e não um bicho.
Por isso é de grande importância que a gente trabalhe a cultura oceânica (ocean literacy) para que as pessoas voltem a se relacionar de outra forma com os ambientes marinhos e costeiros. Vem aí a Década do Oceano, que começa ano que vem, para gente trabalhar esse desafio também.
Publicado originalmente em Espraiada
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