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Maré de Transformação – Oceano Clima e Gênero na COP30

  • Foto do escritor: Colaboradoras da Liga
    Colaboradoras da Liga
  • há 13 horas
  • 5 min de leitura

Por Simone Madalosso e Jemilli Viaggi


A COP-30, realizada em Belém, representou um marco histórico para a agenda climática e, especialmente, para o futuro do oceano. Pela primeira vez, a conferência ocorreu na Amazônia, um bioma diretamente conectado aos sistemas oceânicos, evidenciando de forma incontornável o nexo entre floresta, clima e oceano. Esse encontro revisitou debates urgentes sobre justiça climática, proteção dos territórios costeiros e a necessidade de integrar o oceano como pilar central das soluções globais para a crise ambiental.


Nesse cenário, nossa participação enquanto Liga das Mulheres pelo Oceano foi profundamente significativa. Atuamos para garantir que as perspectivas femininas, costeiras e oceânicas estivessem presentes nas mesas, eventos e articulações políticas.


A partir desse compromisso surgiu o GT COP-30, criado para aprofundar a agenda e assegurar que temas como gênero, oceano e justiça social sigam ocupando espaço central nas discussões climáticas globais. A iniciativa nasceu da percepção de que, apesar da relevância desses temas para a agenda climática global, eles ainda aparecem de maneira dispersa e frequentemente com pouca representatividade dentro dos espaços formais de decisão. Além disso, é sabido que o financiamento para tais áreas corresponde ao mínimo quando comparado ao total do financiamento climático global.


A partir de tal alinhamento, o GT COP-30 idealizou a construção de um documento que reunisse e destacasse iniciativas lideradas por mulheres na interface entre oceano, gênero e clima, oferecendo visibilidade e reconhecimento a essas trajetórias que muitas vezes permanecem invisibilizadas. O material busca não apenas registrar experiências transformadoras, mas também orientar políticas, inspirar práticas e evidenciar o papel fundamental das mulheres na defesa dos territórios costeiros e marinhos. Dessa forma, o documento se constitui como um instrumento político e simbólico para fortalecer a participação feminina e promover um futuro mais justo, inclusivo e sustentável.


Oficina do GT COP-30 com organizações envolvidas para desenvolvimento do documento Maré de Transformação, em 27 de outubro de 2025.
Oficina do GT COP-30 com organizações envolvidas para desenvolvimento do documento Maré de Transformação, em 27 de outubro de 2025.

A partir dessa construção coletiva e do esforço de reunir iniciativas de diferentes territórios, o documento passou a cumprir um papel estratégico na COP-30. Para ampliarmos seu alcance e gerar espaços qualificados de diálogo, organizamos três eventos públicos de lançamento, ambos voltados a apresentar o mapeamento e promover debates sobre os desafios enfrentados por iniciativas lideradas por mulheres, em especial no que diz respeito ao acesso a financiamento e ao reconhecimento institucional.


O primeiro encontro ocorreu na Casa Arayara, dentro do Amazon Climate Hub, reunindo representantes do Ministério da Pesca e Aquicultura, do Fundo Casa Socioambiental, do coletivo Guerreiras das Águas e do Instituto TerrAzul. Nesse espaço, fizemos a apresentação inicial do documento, situando a diversidade das iniciativas mapeadas e discutindo como mulheres de territórios costeiros e amazônicos têm atuado na linha de frente da conservação, da gestão comunitária dos recursos naturais e da defesa de direitos. O diálogo evidenciou, de forma contundente, que embora essas lideranças sustentem grande parte do trabalho socioambiental de base, elas seguem enfrentando barreiras significativas para acessar recursos financeiros, estruturar suas organizações e participar de processos decisórios. As falas trouxeram a urgência de modelos de financiamento mais próximos dos territórios, sensíveis às realidades das mulheres e capazes de fortalecer soluções existentes em vez de reproduzir desigualdades históricas. O Fundo Casa trouxe o histórico panorama e evolução da conservação, e relatou como vem atuando há anos, destacando que um modelo que atende as necessidades locais é possível e necessário. Além disso, a representação governamental destacou a importante pauta da participação social efetiva como o primeiro passo no reconhecimento das mulheres e suas iniciativas.


Mesa Amazon Climate HUB, com as participantes Claudia Gibele (Fundo Casa Socioambiental), Adayse Bossolani (Ministério da Pesca e Aquicultura), Bruna Melo (Rare), Luana Castelo (Instituto Terrazul), Maria Luciene (Guerreira das Águas), e Simone Madalosso (Liga das Mulheres pelo Oceano), em 15 de novembro de 2025.
Mesa Amazon Climate HUB, com as participantes Claudia Gibele (Fundo Casa Socioambiental), Adayse Bossolani (Ministério da Pesca e Aquicultura), Bruna Melo (Rare), Luana Castelo (Instituto Terrazul), Maria Luciene (Guerreira das Águas), e Simone Madalosso (Liga das Mulheres pelo Oceano), em 15 de novembro de 2025.

O segundo lançamento aconteceu na Casa HUB Culture no dia 18 de novembro e contou com a participação das organizações Rare Brasil, Somos do Mar e Todas para o Mar (TPM). As organizações presentes relataram como suas iniciativas promovem o desenvolvimento dos territórios em que atuam, levantando aspectos de fortalecimento da cadeia produtiva do caranguejo em Soure, educação ambiental crítica e desenvolvimento territorial com proteção e protagonismo feminino. 


Casa HUB Culture. Adriana Lippi (Liga das Mulheres pelo Oceano),  Bruna Melo (Rare Brasil), Diulie Tavares (Somos do Mar) e Aline Mendes (Todas para o Mar - TPM), em 18 de novembro de 2025.
Casa HUB Culture. Adriana Lippi (Liga das Mulheres pelo Oceano),  Bruna Melo (Rare Brasil), Diulie Tavares (Somos do Mar) e Aline Mendes (Todas para o Mar - TPM), em 18 de novembro de 2025.

O terceiro evento ocorreu na Casa Vozes do Oceano, com a participação da REMULMANA/CONFREM, da Rede Biomangue e da Fundação Grupo Boticário. O encontro aprofundou ainda mais o olhar sobre os territórios costeiros e marinho-costeiros, destacando o protagonismo de pescadoras, guardiãs de manguezais, lideranças comunitárias e coletivos femininos que atuam com cadeias produtivas e conservação dos ecossistemas, com destaque para os manguezais. A troca entre as organizações reforçou que o documento não é apenas um inventário de iniciativas, mas um instrumento político capaz de iluminar tendências, desafios e oportunidades. Ao mesmo tempo, o debate sobre financiamento emergiu novamente como ponto central: iniciativas lideradas por mulheres seguem subfinanciadas, enfrentam editais pouco acessíveis, exigências burocráticas incompatíveis com suas estruturas e escassez de recursos que considerem o tempo comunitário, o trabalho de cuidado e a importância da liderança feminina para a adaptação climática e a saúde dos ecossistemas. A filantropia trouxe como ponto central o processo de mudança que vem ocorrendo entre os financiadores, especialmente do sul global, para desenvolver mais tais pautas e melhorar a acessibilidade para organizações de base. 


Mesa na Casa Vozes do Oceano com as participantes Barbara Calmon (Rede Biomangue), Janaína Bumbeer (Fundação Grupo Boticário), Katia Barros (REMULMANA e CONFREM) e Simone Madalosso (Liga das Mulheres pelo Oceano), em 19 de novembro de 2025.
Mesa na Casa Vozes do Oceano com as participantes Barbara Calmon (Rede Biomangue), Janaína Bumbeer (Fundação Grupo Boticário), Katia Barros (REMULMANA e CONFREM) e Simone Madalosso (Liga das Mulheres pelo Oceano), em 19 de novembro de 2025.

Os três eventos confirmaram a relevância do mapeamento e fortaleceram a presença da Liga das Mulheres pelo Oceano como articuladora entre territórios, organizações e instituições financiadoras. Também evidenciaram que, para avançar em justiça climática e proteção oceânica, é imprescindível enfrentar a lacuna estrutural de financiamento que impede o florescimento de tantas iniciativas potentes. Assim, o documento e os diálogos gerados ao seu redor contribuem para ampliar a visibilidade dessas experiências, construir pontes e orientar tanto políticas públicas quanto arranjos de financiamento mais equitativos.






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Jemilli Viaggi é bióloga marinha e doutora em Ecologia pela UFRJ, especialista em políticas públicas, advocacy e estratégias de conservação marinha. Atua na Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano e na Secretaria Executiva da Liga das Mulheres pelo Oceano, coordena o GT-COP30 e contribui para a Década da Ciência Oceânica da ONU. Consultora especialista do Ministério do Meio Ambiente na articulação de políticas e estratégias para o combate à poluição por plástico nos oceanos e membro do Comitê Diretor da Scientists’ Coalition for an Effective Plastics Treaty. Também é assessora ambiental do Instituto Coral Vivo na regional Abrolhos. Comprometida com a transição para modelos mais justos, regenerativos e sustentáveis, integra ciência, políticas públicas e sociedade para enfrentar os desafios ambientais globais.




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Simone Madalosso é bióloga e mestre em Práticas em Desenvolvimento Sustentável (UFRRJ/The Earth Institute – Columbia University). Atua há mais de 15 anos em territórios costeiros, amazônicos e no Cerrado. É especialista na área pesqueira, no trabalho com comunidades tradicionais, na gestão de conflitos socioambientais e em sociobioeconomia. É fundadora da Bio Adaptativa, empresa de consultoria socioambiental. Atualmente é assessora técnica do Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN). Atua voluntariamente, como pessoa física, na Liga das Mulheres pelo Oceano, onde coordenou em 2025 o mapeamento do GT COP30.










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