Por Elisa Mello
"A biodiversidade sustenta toda a vida na Terra. A humanidade precisa integrar a sustentabilidade ao desenvolvimento econômico e garantir o uso sustentável da natureza". Estas foram as palavras de Doreen Robinson, Diretor de Biodiversidade e Terra do PNUMA, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, durante encontro de negociadores em Genebra (Suíça), para alinhamento final das metas de proteção à biodiversidade mundial, que devem ser apresentadas em outubro deste ano (e não mais em maio, como era esperado).
A Conferência de Biodiversidade da ONU (também conhecida como a 15ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, ou COP15) objetiva chegar a um acordo sobre novas metas para a natureza, no âmbito do Quadro Global de Biodiversidade Pós-2020. O Quadro é uma contribuição fundamental para a implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, mas acima de tudo, um manual para a manutenção da vida na Terra.
Apesar dos esforços contínuos, a biodiversidade está se deteriorando em todo o mundo e esse declínio deve continuar ou piorar em cenários futuros. Apesar do valor que a natureza entrega, ela tem sido degradada a índices catastróficos. De acordo com a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), 75% das terras e 66% do oceano do planeta já foram alterados pela atividade humana e muitos ecossistemas estão desaparecendo. A taxa global de mudança na natureza, nos últimos 50 anos, atingiu um ponto sem precedentes na história da humanidade, produzindo diversos pontos de inflexão. É o que muitos cientistas têm chamado de "Tipping Point". E acontece que a perda da natureza tem consequências de longo alcance. Os ecossistemas degradados agravam as mudanças climáticas ao liberar carbono (CO2) em vez de armazená-lo e o fim de muitas espécies pode ser prejudicial para nós humanos, dependendo da cadeia biológica em que se encontram.
A Estrutura Global de Biodiversidade Pós-2020 se baseia no Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020 e estabelece uma campanha ambiciosa para implementar ações de base ampla, a fim de promover uma transformação na relação da sociedade com a biodiversidade e garantir que, até 2050, a visão compartilhada de viver em harmonia com a natureza seja cumprida.
Para nós, brasileiros, o tema é de suma importância! Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil ocupa quase metade da América do Sul e sustenta o título de país mais biodiverso do mundo!!! São mais de 116.000 espécies animais e mais de 46.000 espécies vegetais conhecidas e espalhadas por nossos seis biomas terrestres e pelos três grandes ecossistemas marinhos que temos. Além disso, o Brasil possui uma costa, banhada pelo Oceano Atlântico, de quase 8,5 mil km de extensão, que inclui ecossistemas como recifes de corais, dunas, manguezais, restingas, lagoas, estuários e pântanos. Essa abundante variedade de vida abriga mais de 20% do total de espécies do mundo, encontradas em terra e água.
Não é pouco! E é preciso aprendermos a viver em harmonia com todas elas, de uma vez por todas. É preciso cessar a contínua marginalização da natureza de forma eficaz na luta contra a mudança climática. Em conjunto, o IPCC e o IPBES publicaram uma declaração enfatizando a necessidade de enfrentar as crises do clima e da biodiversidade de maneira simultânea. É preciso pressionar por mais financiamento para proteger os ecossistemas. E muitos Estados já expressaram seu desejo de ver uma ambiciosa estrutura global de biodiversidade, especialmente o G7, em seu Pacto da Natureza. Durante a primeira etapa da Convenção da Biodiversidade, quando se estabeleceu a Declaração de Kunming, o Governo Chinês, anfitrião do evento, se comprometeu com aproximadamente US$ 230 milhões para proteção e restauração da biodiversidade. O Pacto Global pelo Meio Ambiente (GEP), em parceria com o PNUD, o Programa da ONU para o Desenvolvimento, e o PNUMA anunciaram apoio financeiro e técnico para países em desenvolvimento. O objetivo é que os governos possam implementar ações de forma imediata assim que a estruturação do plano estiver definida.
A visão, ou seja, o que se espera da Estrutura é uma vida em harmonia com a natureza onde, "até 2050, a biodiversidade seja valorizada, conservada, restaurada e usada com sabedoria, mantendo os serviços ecossistêmicos, sustentando um planeta saudável e entregando benefícios essenciais para todas as pessoas.”
É tudo o que se quer! Nós da Liga estaremos de olho!
Sobre a autora:
Elisa Mello é jornalista e membra da equipe editorial da Liga das Mulheres pelo Oceano.
Foto de capa: Anne Nygård no Unsplash
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