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Formar para Transformar: Um Chamado à Resiliência nas Zonas Costeiras

  • Foto do escritor: Colaboradoras da Liga
    Colaboradoras da Liga
  • 3 de abr.
  • 6 min de leitura

Por Isadora Timbó


Se você acompanha o trabalho da Liga das Mulheres pelo Oceano, já sabe que acreditamos na força da formação, da ciência e das conexões humanas para impulsionar a transformação que o oceano precisa. É por isso que compartilho com entusiasmo minha experiência no curso internacional "Crescimento Costeiro Sustentável e Resiliente" (Sustainable Coastal Growth and Resilience), o primeiro oferecido no âmbito da Coastal Resilience School — uma iniciativa da UNESCO/IOC Ocean Decade Collaborative Center for Coastal Resilience (DCC-CR) da Universidade de Bolonha, organizada pelo Centro Euro-Mediterrânico sobre Mudanças Climáticas (CMCC), da Universidade de Bolonha, em colaboração com o Ocean Teacher Global Academy (OTGA).


Foram mais de 500 inscrições recebidas de profissionais de diversas partes do mundo — e apenas 25 selecionados. Fui a única brasileira nessa turma diversa e internacional. A seguir, compartilho um pouco do que tenho vivido ao longo dessa jornada: os conteúdos abordados, minhas impressões sobre a experiência, dicas para quem deseja se inscrever em futuras edições e sugestões de outros cursos abertos em temáticas afins.



CONTEÚDO DO CURSO: UM MERGULHO NA RESILIÊNCIA COSTEIRA


O curso "Sustainable Coastal Growth and Resilience" é estruturado em cinco módulos online e uma semana presencial, oferecendo uma formação abrangente em temas cruciais para a resiliência costeira. Os conteúdos foram ministrados por especialistas de instituições, como a Universidade de Bolonha, HR Wallingford, OTGA, e diversas agências internacionais. Abaixo, um panorama do percurso:


  • Módulo 1 – Fundamentos da Resiliência Costeira e sua Relevância para Negócios: explorou conceitos-chave como adaptação climática, transição sustentável, economia circular e sistemas de alerta precoce.


  • Módulo 2 – Entendendo Perigos Costeiros a partir de Produtos de Oceanografia Operacional: apresentou dados globais de oceanografia operacional, produtos de satélite para monitoramento costeiro, séries temporais via Jupyter Notebooks, e mapeamento de riscos associados a ondas e marés.


  • Módulo 3 – Avaliação de Impactos e Gestão de Riscos: abordou a elaboração de estudos de impacto ambiental, técnicas e consultas públicas, gestão de riscos de inundações e erosão, com apoio de estudos de caso aplicados.


  • Módulo 4 – Tecnologias Habilitadoras: tratou do uso de Big Data, inteligência artificial para eventos extremos, sistemas GIS avançados, assimilação de dados e altimetria costeira para monitoramento de riscos.


  • Módulo 5 – Soluções para a Resiliência Costeira: foco em estratégias práticas como portos verdes, cidades costeiras sustentáveis, maricultura responsável, remoção marinha de CO₂ e Soluções Baseadas na Natureza (SbN).


Ao revisitar minha trajetória, desde a formação em Oceanografia em 2011, até as atuais atividades profissionais, esse curso tem sido uma oportunidade valiosa de reencontro e reintegração com a agenda costeira e marinha. Iniciei minha carreira atuando com avaliação de impacto ambiental em empreendimentos costeiros e offshore (2008–2012), experiência que me forneceu uma base sólida em questões ambientais aplicadas. Entre 2012 e 2014, mergulhei no aprendizado e aplicação de ferramentas de geoprocessamento (GIS), algo que o curso me trouxe de volta ao radar. Desde 2015, venho colaborando com projetos voltados ao desenvolvimento sustentável, em sua maioria com foco na agenda verde em contextos rurais e urbanos — mas com experiências pontuais e relevantes na agenda azul, como em Belize, onde apoiei estratégias de adaptação climática para o setor de turismo, e mais recentemente em um estudo sobre adaptação de infraestruturas críticas costeiras. O curso tem me permitido reconectar esses saberes e atualizar conhecimentos técnicos com abordagens mais integradas. 



UMA JORNADA DE CONHECIMENTO E CONEXÕES


Agora, nesta semana, estamos imersos no Módulo 5, sobre soluções para a resiliência costeira. Hoje, dia 04 de abril, estou embarcando para a etapa presencial do curso em Bertinoro, na Itália — uma charmosa cidade medieval localizada entre Bolonha e a costa do Adriático.


O curso acontecerá nas instalações do Centro Universitário Residencial de Bertinoro (CEUB), um centro de formação acadêmica e científica que ocupa um antigo castelo em uma colina com vista panorâmica para os vinhedos da região da Emília-Romanha. É lá que ficaremos hospedados e onde acontecerão todas as atividades formativas presenciais — em um ambiente pensado para o intercâmbio de ideias e o aprofundamento do conhecimento.


A semana será intensa e rica em trocas: iniciaremos com dinâmicas de integração, formação de equipes temáticas e sessões de mentoria. Cada grupo de participantes deverá preparar uma apresentação colaborativa, comparando os desafios e estratégias aplicadas em diferentes áreas costeiras do mundo. Teremos sessões com especialistas internacionais, estudos de caso técnicos, debates em plenária e, ao final, a apresentação dos projetos para uma banca multidisciplinar.


No último dia, visitaremos a cidade de Rimini, onde conheceremos iniciativas locais de requalificação urbana e gestão costeira, como o Parco del Mare e o plano municipal de proteção balnear. A imersão termina com um almoço à beira-mar e um jantar de encerramento entre colegas, especialistas e facilitadores — uma oportunidade rara de conexão entre quem atua, pesquisa e sonha com um futuro mais resiliente para nossas zonas costeiras.


Essa etapa presencial é, sem dúvida, o ápice da formação. Mais do que um encontro técnico, será um momento de escuta ativa, reconhecimento das realidades diversas e construção de redes de colaboração que, espero, perdurem muito além do curso.



PROCESSO SELETIVO: PREPARAÇÃO, REDE E VISIBILIDADE


Para quem tem interesse em oportunidades como essa, é importante saber que o processo de seleção foi criterioso: além de falar sobre experiências prévias na temática e relevância para a atuação profissional, tive que apresentar certificados e uma carta de recomendação. Ter um currículo bem estruturado, certificados organizados e uma rede ativa fizeram toda a diferença. No meu caso, descobri a chamada pela página do OTGA no LinkedIn — e reforço aqui como o uso positivo das redes sociais pode ser uma ferramenta poderosa. 


Se você deseja se manter informada, sugiro acompanhar de perto o trabalho de instituições como:


  • IOC-UNESCO

  • Ocean Teacher Global Academy (OTGA)

  • International Ocean Institute (IOI)


Além delas, outras organizações relevantes que frequentemente oferecem capacitações incluem a The Nippon Foundation, o Plymouth Marine Laboratory, o Centro Euro-Mediterrânico sobre Mudanças Climáticas (CMCC), e a Decade Collaborative Centre for Coastal Resilience da Universidade de Bolonha.



POR QUE ISSO IMPORTA PARA A LIGA?


Esse curso conversa diretamente com o que a Liga das Mulheres pelo Oceano promove: conhecimento técnico aliado à ação em rede! Falar de resiliência costeira é falar de justiça climática, de gestão territorial, de adaptação e de futuro. É também reconhecer que há um chamado coletivo para a formação de profissionais que pensem o oceano, e mais especificamente, sua interação com a costa, com sensibilidade, visão sistêmica e propósito.


A tendência é clara: novos cursos com esse perfil devem surgir nos próximos anos, em diversas temáticas alinhadas à Década da Ciência Oceânica. E a Liga pode (e deve!) ocupar esse espaço, incentivando mais mulheres a se engajarem na ciência oceânica e nas soluções costeiras.


Compartilhar essa vivência é, para mim, uma forma de devolver à rede aquilo que ela me proporcionou. É uma semente lançada. E que venham os próximos mergulhos coletivos rumo a um oceano mais resiliente — e mais feminino.



FIQUE ATENTA A NOVAS OPORTUNIDADES


Se você se interessou por essa temática e quer se aprofundar, aqui vão algumas oportunidades:


  • Sea Level Rise and Its Impact on Coastal Zones under Climate Change - O curso abordará estratégias e ferramentas sobre a elevação do nível do mar e mudanças climáticas, compartilhará experiências da China e do Sudeste Asiático, e fomentará discussões sobre como essas questões impactam os objetivos de desenvolvimento sustentável para os oceanos.

    • Modalidade: presencial 

    • Data: 20-29 de maio de 2025

    • Duração: 20 horas

    • Inscrições: até 4 de abril, corre que ainda dá tempo!

    • Link aqui


  • Marine Spatial Planning for the Wider Caribbean – IOC/UNESCO (IOCARIBE) - Curso regional voltado ao planejamento espacial marinho na região do Caribe, com foco em políticas públicas, ferramentas e implementação prática para a conservação e o uso sustentável dos recursos marinhos e costeiros.

    • Modalidade: Online e gratuito (em inglês e espanhol)

    • Data: Disponível até 30 de dezembro de 2025

    • Duração: 20 horas

    • Inscrições: até 15 de dezembro de 2025

    • Link aqui


  • Planejamento e Gestão de Ecossistemas Costeiros

    Curso online grátis de Planejamento e Gestão de Ecossistemas Costeiros com certificado válido em todo o Brasil.

    • Modalidade: Online e gratuito

    • Duração: 40 horas

    • Link aqui


  • Nature-Based Solutions for Coastal Hazards: The Basics– NOAA Digital Coast (EUA) - Curso introdutório e gratuito sobre Soluções Baseadas na Natureza (SbN) voltado para profissionais que atuam na gestão costeira e adaptação climática. Ideal para quem busca aplicar estratégias de baixo custo e alto impacto nas zonas costeiras.

    • Modalidade: Online (autoinstrucional e gratuito)

    • Duração: 60 minutos

    • Link aqui


  • Ocean Governance Capacity Building Training Program (Banco Mundial) - Curso intensivo que integra governança oceânica, direito do mar e políticas públicas, com abordagem interdisciplinar voltada a gestores, pesquisadores e tomadores de decisão.

    • Modalidade: Online (espanhol, inglês e francês)

    • Duração: 2-3 horas 

    • Inscrições: abertas

    • Link aqui


Se você chegou até aqui, é porque essa temática também pulsa em você. Que bom! Porque nosso planeta precisa — agora mais do que nunca — de profissionais preparadas, conectadas e dispostas a construir soluções integradas e colaborativas. Convido você a compartilhar essa matéria com outras mulheres do mar, a seguir instituições que impulsionam formações como essa, e, claro, a se engajar ainda mais com a Liga das Mulheres pelo Oceano. Uma zona costeira resiliente se constrói em rede. Vamos juntas?




Isadora Timbó, oceanógrafa e planejadora ambiental, com trajetória profissional e acadêmica dedicada ao desenvolvimento sustentável e à conservação dos ambientes naturais, especialmente os costeiros e marinhos. Mais do que celebrar sua conquista individual, ela compartilha aqui este relato como um convite — e um alerta — para que mais “gestoras costeiras” se qualifiquem e fortaleçam esse campo de atuação ainda pouco explorado e frequentemente invisibilizado, apesar da sua urgência e complexidade.


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