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Liga Storm na Conferência do Oceano 2022

Atualizado: 1 de ago. de 2022

Por Bárbara Pinheiro




A Conferência do Oceano das Nações Unidas que ocorreu em Lisboa, Portugal de 27 de Junho a 1 de julho, reuniu pessoas do mundo todo, e entre elas uma “LIGA STORM”, um grupo de integrantes da Liga das Mulheres pelo Oceano, que faziam parte de delegações oficiais, com acesso a Plenária central na Altice Arena, ou que aproveitaram a ocasião de estar pela redondeza para acompanhar as dezenas de eventos paralelos que aconteceram simultaneamente em espaços e prédios no entorno do Parque das Nações e do Oceanário.

Convidamos algumas dessas mulheres para compartilhar conosco um pouco da experiência que tiveram durante essa semana “além-mar” e destacamos alguns links com documentos ou informações complementares divulgadas durante a Conferência.


Janaína Bumbeer, da Fundação Grupo Boticário de Proteção a Natureza, comparando com a Primeira Conferência dos Oceanos em ocorreu em 2017, contou que essa segunda edição traduziu um pouco como é lidar com conservação e uso sustentável do Oceano e teve maior representação de delegações e pessoas de diversos setores (governo, setor privado, sociedade civil, pesquisadores, ONGs), o que trouxe uma perspectiva diferente, de maior diálogo e troca entre as partes, visando a formulação de ações conjuntas e integradas. Porém, para Jana, o evento ainda foi muito focado no “oceano do Hemisfério Norte”, com uma participação mais intensa de integrantes de países europeus e norte-americanos. Ela ressaltou que para promovermos ações para um oceano global é preciso pensar ainda em como vencer barreiras como distância, língua, e a falta de representatividade de diferentes culturas.

Outro tema que chamou sua atenção nos encontros paralelos, muitas vezes puxados pelo setor privado, foi um diálogo sobre as questões de equidade de gênero. Infelizmente, porém, ainda se percebe que esse tema não chama muito a atenção do público em geral, e os poucos eventos sobre o tema que enchiam as salas, eram compostos de plateia majoritariamente feminina.


A pesca artesanal também foi um dos temas debatidos apenas nos eventos paralelos, mesmo o ano de 2022 tendo sido declarado o ano internacional da pesca artesanal e da aquicultura pela FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas), essa agenda não contou com representantes de comunidades costeiras nem foi debatida na plenária oficial. Paulina Chamorro, jornalista, que fez a cobertura da Conferência para o site O Eco, teve a oportunidade de entrevistar duas pescadoras brasileiras que participaram das conversas nos eventos paralelos e ressaltaram o papel delas na luta pela visibilidade das mulheres pescadoras e pela permanência das comunidades tradicionais nos seus territórios. Para conferir o depoimento delas, ouça aqui.



Patrícia Furtado, fundadora e CEO da Acqua Mater, participou de vários eventos paralelos, incluindo um pré-evento que ocorreu entre os dias 24 e 26 de junho, o Fórum da Juventude e Inovação, e foi a porta voz dos jovens durante a plenária no último dia da conferência. A Aqua Mater foi uma das 4 instituições selecionadas entre 300 inscritas, e Patrícia teve a oportunidade de apresentar o documento produzido por jovens de todo mundo e intitulado “My Marina”, que estabelece a importância dos jovens na mesa de negociação dos assuntos relacionados com o Oceano. Neste documento os jovens declararam um estado de emergência para a saúde do oceano, e que a participação da juventude no momento da tomada de decisão é questão de justiça e representatividade, garantindo rotas criativas para soluções inovadoras.


Para mim, Bárbara Pinheiro, membro da secretaria executiva do GAM- Nordeste, da Liga, e pesquisadora do PELD CCAL/UFAL, outro destaque dos eventos paralelos foi a discussão sobre Cultura Oceânica. Uma semana inteira de reuniões paralelas e workshops sobre o tema, muitos dos quais contou com a participação do Prof. Ronaldo Christofoletti da UNIFESP- Maré de Ciência na organização desses eventos. E um ponto alto desta programação foi a apresentação que a Jana Bumbeer fez sobre a pesquisa de percepção dos Brasileiros sobre o Oceano.

Vocês sabiam que 40% dos brasileiros se reconhecem preocupados com a conservação do oceano, mas eles acreditam que apenas 10,5 % da população possui a mesma preocupação? Incrível né?! Quer saber mais? Para ter acesso ao arquivo da pesquisa completo é só baixar aqui. A economia azul também foi um tema bastante discutido, tanto na programação oficial quanto nos espaços no entorno, sobretudo na arena “Um oceano sustentável”, onde além das discussões, foi montada uma grande estrutura para networking.


Nossa conselheira Ana Paula Prates (Instituto Talanoa/ MMA) destacou que a conferência em si foi boa, principalmente os eventos paralelos, onde foram discutidos temas mais interessantes. Na programação oficial pouca coisa chamou atenção, com merecido destaque à fala do presidente da França, Emmanuel Macron, sobre acordos para parar a mineração em mar profundo e anúncios importantes sobre a ampliação de Áreas Marinhas Protegidas na Colômbia e em Portugal. No que se refere a delegação oficial brasileira, na plenária houve discussões fracas, compromissos vazios e solicitações de recurso financeiro. Ana aponta que o nosso problema não é a falta de dinheiro, a nossa questão é falta de vontade política de fazer. Pouco se falou das grandes pressões que o oceano sofre e que por isso não consegue ficar saudável e que precisamos agir para garantir a saúde do oceano. Isso deveria ser um ponto principal para discussões que tangem às mudanças climáticas. Precisamos eliminar as pressões- seja poluição, sobrepesca, pesca irregular, mineração de mar profundo - porque precisamos do oceano saudável para ele ter resiliência para voltar a nos ajudar a combater as mudanças climáticas. Infelizmente, houve pouca discussão nesse sentido, e poucas falas sobre o que a própria Conferência do Oceano pode levar para as COPs de Clima. Ana ressalta que “o oceano é o nosso maior amigo na mitigação das mudanças climáticas, só que do jeito que está sendo tratado ele pode se tornar o grande vilão, inclusive com o aumento do nível do mar que já está sendo dado como posto e vai aumentar, continuar aumentando... A previsão para 2100 é que aumente 1.5 metros, isso já é dado como certo, não tem o que fazer” desabafou.


O encontro com a nossa musa inspiradora, Dra. Sylvia Earle, foi outro ponto alto da conferência. A “Liga Storm” não perdeu a oportunidade de ouvir um pouco das histórias e ensinamentos da Sylvia, e ainda aproveitou para presenteá-la com uma camiseta da Liga!


Outra personalidade que também nos encheu de orgulho foi Maya Gabeira, surfista brasileira de ondas gigantes, e embaixadora dos Oceanos pela UNESCO. Maya esteve presente em uma série de eventos destacando a necessidade de se falar para a sociedade em geral da importância do oceano saudável para a vida no planeta.

Devemos nos apoiar na ciência para divulgar essas informações, para entender onde estamos, para onde vamos e qual caminho tomaremos... sem oceano a gente não vive! Como surfista o que ela vê mais é a questão do aumento da poluição por plástico no oceano, mas que ela tem consciência dos outros grandes problemas que comprometem o equilíbrio e a saúde do oceano e alerta que precisamos promover mudanças sérias no nosso modo de vida para que a gente consiga prevenir uma catástrofe e recuperar o que ainda temos.


E finalizamos o nosso resumo sobre o primeiro grande evento da ONU no “pós pandemia”, com a fala da Jana que destaca: “a necessidade das pessoas se encontrarem para dialogar, debater, se aproximar, foi super relevante, mas fica o desafio de realmente saímos do diálogo, do papel, e, voltando cada um para os seus países, seguir nas articulações e colocar em prática acordos e propostas ambiciosas e que sejam executados o mais rápido possível!”.

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