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Mulheres no Monitoramento de Florestas de Mangue

Por Marília Cunha Lignon, docente da UNESP, campus de Registro


Sou bióloga formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com mestrado e doutorado pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP). Estudo os manguezais desde 1999, quando comecei a procurar entender a dinâmica de florestas de mangue no litoral sul de São Paulo, sob orientação da Profa. Dra. Yara Schaeffer Novelli. Em 2001, instalei 20 parcelas em florestas de mangue na região de Cananéia. Elas estão lá até hoje. É o que chamamos de parcelas permanentes. São poucas parcelas permanentes em manguezais no mundo. A possibilidade de acompanhar a dinâmica das mesmas florestas de mangue por tanto tempo é incrível! Taxa de crescimento das espécies típicas de mangue, formação de clareiras nas florestas por eventos naturais e antrópicos, regeneração natural entre outros enfoques são bem bacanas de serem monitorados.


Para se estudar os manguezais é necessário estar em equipe. Sozinha não dá... É um ecossistema onde o deslocamento na lama não é fácil, além das longas e intensas horas de trabalho. Desde que comecei a fazer trabalhos de campo no manguezal, integrei equipes formadas principalmente por homens, meus amigos de pós-graduação no IOUSP, Clemente Coelho Junior, Renato de Almeida e Ricardo Palamar Menghini. Eles ajudando no campo da minha pesquisa e vice-e-versa.


Durante os dois pós-doutorados que fiz (Université Libre de Bruxelles e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE), eu formava equipes que incluía homens para ajudar na minha pesquisa em campo.


Como temos alguns equipamentos pesados, eu acreditava ser necessário a presença de pelo menos um homem para ajudar nessa empreitada. Mas eu estava enganada! Em 2015, em função da disponibilidade do pessoal, a equipe foi composta somente por mulheres. E o trabalho de campo funcionou muito bem! Desde então, minhas equipes de monitoramento de florestas de mangue, em parcelas permanentes, são formadas somente por mulheres. Não para excluir homens, mas sim para valorizar o trabalho de mulheres pesquisadoras nos manguezais.


O monitoramento de florestas de mangue, formado somente por mulheres, faz parte do grupo de pesquisa do CNPq, Monitoramento Integrado de Manguezais, composto por diversos pesquisadores e pesquisadoras, alunos e alunas de pós-graduação e de graduação, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), USP, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), INPE, Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), Universidade de Brasília (UnB) e Universidad Nacional de Colombia (UNAL). Esse grupo tem as seguintes linhas de pesquisa: Alterações Ambientais no Ecossistema Manguezal; Bioquímica; Diversidade e Conservação da Fauna Associada à Manguezais; Ecologia do Ecossistema Manguezal; Geotecnologias para Estudo em Manguezais; Gestão e Conservação de Unidades de Conservação em Áreas de Manguezais; Microclima de Manguezais; e Vegetação Típica e Associada ao Ecossistema Manguezal.


Atualmente, sou professora do Curso de Engenharia de Pesca na UNESP. Um curso procurado principalmente por homens. O quadro de docentes também tem esse perfil. Dos 16 docentes vinculados diretamente a esse curso, somente quatro são mulheres. Desde que entrei na UNESP, as alunas de graduação do curso de Engenharia de Pesca estão integrando as equipes de campo de monitoramento de florestas de mangue. Empoderamento feminino no manguezal é legal! Foco, organização, proatividade e garra fazem parte dos perfis das integrantes das equipes que seleciono anualmente. Nos trabalhos de campo que duram de 10 a 15 dias, damos conta do recado com um toque especial ao trabalho. Até o lanche é diferenciado: mais saudável e bem mais gostoso!

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