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  • Isabela Moreira

COVID-19 e os Animais Marinhos, qual a relação?!




A soltura dos animais reabilitados é sempre um momento marcante do trabalho do Instituto Gremar. Foto: Instituto Gremar/Guarujá - SP.



1) Refletindo sobre a restrição de uso das praias e cercanias impostas pelas prefeituras durante a pandemia da COVID-19 e o descontentamento gerado nos banhistas, você acha que é correto afirmar que essa restrição traz grandes benefícios à vida marinha e contribui para a limpeza dos oceanos?

R: As restrições de circulação de pessoas tanto nas praias, como nas ruas das cidades litorâneas, contribuem para certa redução na quantidade de resíduos que chegam até o mar, havendo benefício para a vida marinha e a limpeza do oceano. Porém, não seria correto afirmar que há um “grande” benefício, pois já existe uma quantidade enorme de resíduos que chegam diariamente no oceano e são provenientes de diversas fontes, como de esgoto doméstico, industrial, agrotóxicos das atividades agrícolas, substâncias tóxicas das atividades mineradoras, ocupações irregulares, turismo, entre outros. Como possuímos um oceano global, a poluição, principalmente plásticos de baixa densidade, pode alcançar praias de todos os lugares do planeta. Portanto, mesmo não havendo circulação de pessoas em determinada praia, ainda poderemos encontrar nas faixas de areia resíduos que foram trazidos com o mar.


2) Há maior circulação e/ou aparições de animais marinhos durante este período?

R: Sim, durante o monitoramento diário das praias, nossos colaboradores vêm observando maior circulação de animais, principalmente aves marinhas. Sentindo-se menos ameaçadas na ausência de circulação de banhistas, elas podem utilizar a faixa de areia para forragear (procurar alimento) ou descansar. Algumas espécies de aves são mais sensíveis às ações antrópicas, como, por exemplo, as aves limícolas, que na nossa região são pouco avistadas na área costeira que possuem muito impacto antrópico. Assim, durante o monitoramento feito nos meses com maior restrição foram avistadas algumas dessas aves que não encontramos com tanta frequência, tais como o talha-mar, batuiruçu, martim-pescador, batuíras e maçaricos.


3) As aparições são de animais feridos ou saudáveis?

R: O aumento de aparições é de animais saudáveis. Quanto aos animais feridos, a frequência de ocorrência pode variar de acordo com a época do ano, muitas vezes relacionada ao período migratório de algumas espécies.


4) As aparições são em maior parte de peixes ou mamíferos?

R: Na realidade, as mais observadas são de aves marinhas.


5) Tem algum caso que mais chamou a atenção dos biólogos?

R: O que mais chama a atenção, em tempos de pandemia ou não, é o acúmulo de lixo diário nas praias da região monitorada pelo Instituto, principalmente aquelas com maiores densidades populacionais.


6) Fique à vontade para escrever.

R: Ao longo desses anos de trabalho, pudemos notar que os grandes causadores de mortes de animais marinhos são as interações com petrechos de pesca e resíduos sólidos.


Por exemplo, durante a temporada de verão, nos períodos de férias, no qual há maior circulação de pessoas nas praias, podemos notar um aumento no número de gaivotões (Larus dominicanus) com quadro clínico de intoxicação. Esse quadro pode ser resultado do fato de que muitas vezes essas aves, de hábito alimentar generalista, se alimentam dos restos de alimentos humanos ou lixos descartados na areia.


Nós, do Instituto Gremar, acreditamos que a problemática da alta quantidade de resíduos que chegam ao mar está diretamente relacionada ao consumo e produção excessivos e impostos pelo estilo de vida da sociedade atual. Precisamos criar leis que responsabilizem os grandes produtores, além de realizar uma gestão eficaz do resíduo produzido. Ainda, é fundamental cobrar dos governos infraestrutura social básica, investimento em educação ambiental e cultura oceânica.



Rosane Farah Bióloga e responsável técnica do Instituto Gremar


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