Por Tati Mazzo
Você já refletiu sobre como o oceano está conectado ao seu dia a dia, mesmo que você viva longe dele? Mais do que um cenário deslumbrante ou um recurso natural distante, o oceano é o coração do planeta. Ele cobre 70% do planeta, regula o clima, abriga uma biodiversidade imensa, sustenta atividades econômicas fundamentais e produz 50% do oxigênio que respiramos, mantendo a vida na Terra. Compreender a relação entre cada um de nós e o oceano é a essência da cultura oceânica, um conceito que une ciência, justiça social, economia, educação, bem-estar humano e conservação ambiental. A cultura oceânica nos convida a reconhecer o papel central do oceano em nossas vidas e a entender as consequências de nossas ações sobre ele. É também um chamado à ação, convocando governos, instituições, comunidades e indivíduos a se engajarem na conservação e no uso sustentável do oceano. Esse movimento é parte da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030), promovida pela ONU, popularmente chamada de Década do Oceano, um período dedicado a esforços coletivos para a recuperação e conservação dos oceanos, com base em ciência e educação.
🌍 O Brasil na Liderança Global
O Brasil destaca-se globalmente como referência em ações de cultura oceânica, integrando ciência, educação e políticas públicas. O Programa Maré de Ciência da UNIFESP, vem desde 2018 promovendo a coprodução de conhecimento de impacto, conectando universidade, poder público e sociedade civil, trabalhando em cinco frentes, com escolas, comunidades, ciência cidadã, políticas públicas e mulheres na ciência. Desde a elaboração do Plano de Implementação da Década do Oceano no Brasil, liderado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Maré de Ciência contribui com ciência e coprodução com diversos públicos.
🏛️ O Poder das Ações Locais
Transformações globais começam em nível local. Um exemplo inspirador é a cidade de Santos (SP), com a implementação da Lei da Cultura Oceânica com apoio do Programa Maré de Ciência. Essa lei, que introduziu o ensino sobre o oceano no currículo escolar municipal, foi reconhecida pela UNESCO como a primeira política pública do tipo no mundo. Desde a sua aprovação em 2021, mais 20 municípios e 3 estados brasileiros adotaram legislações semelhantes, demonstrando o poder das ações locais em alinhar metas regionais aos desafios globais da Década do Oceano. A Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, secretariada pelo Maré de Ciência, é uma parceria MCTI, UNESCO com apoio da Fundação Grupo Boticário, que articula esforços entre setores público e privado para desenvolver e implementar políticas que alinhem ciência, sustentabilidade e cultura oceânica, amplificando o impacto da Década do Oceano. Na área de educação formal, a Aliança tem mobilizado instituições públicas estaduais e municipais para a adesão ao programa Escola Azul e a implementação de um currículo escolar azul. Um caso emblemático é o município de Barcarena no estado do Pará, o qual foi a primeira cidade no mundo a integrar toda sua rede de educação básica no programa Escola Azul. Em dezembro de 2024, a Aliança promoverá o I Fórum da Cultura Oceânica, um espaço estratégico de diálogo sobre a integração da cultura oceânica nas políticas públicas educacionais, com foco em promover o Currículo Azul. Este conceito, que conecta o oceano à cidadania, formações profissionais e sustentabilidade, é essencial para preparar nossa sociedade frente aos desafios climáticos e ambientais do presente e do futuro. Este primeiro Fórum ocorrerá na região Norte. Com a COP 30 Clima em Belém (PA) e o tema "Cultura Oceânica" na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2025, o Fórum convidará as Secretarias de Educação da região Norte a se unirem a este movimento transformador e que integra o papel da Amazônia e do oceano no combate às mudanças climáticas. Ao longo do ano de 2025, a Aliança promoverá outros Fórum regionais, para mapearmos oportunidades para o Currículo Azul no Brasil. Juntos, podemos impulsionar políticas educacionais que conectem o oceano às salas de aula e fortaleçam o Brasil como líder global na promoção da cultura oceânica.
Ciência cidadã em ação: Monitoramento de resíduos em praias de Santos, com a participação ativa de estudantes da educação básica.
🎓 Educação: Pilar da Mudança
O Programa Escola Azul conecta mais de 350 escolas em todo o Brasil, integrando o tema oceano ao currículo escolar de forma transversal. Além disso, a Olimpíada do Oceano (O2) mobilizou, em 2024, mais de 65 mil participantes de todas as regiões do país, ampliando o alcance e o impacto da cultura oceânica. Juntas, essas ações já impactaram mais de 100 mil estudantes e 2 mil professores no Brasil todo. Instrumentalizar professores e engajar estudantes são estratégias fundamentais para promover a cultura oceânica de maneira duradoura e eficaz. Alinhada a esse objetivo, a CAPES, por meio da Universidade Aberta do Brasil (UAB), lançou o curso de especialização em Cultura Oceânica e Sustentabilidade. Com 1.050 vagas direcionadas a professores graduados da rede pública de educação básica que atuam nos ensinos fundamental e médio, o curso tem o início previsto para o segundo semestre de 2025. Na UNIFESP, a especialização foi criada e será desenvolvida em estreita relação com as ações do Programa Maré de Ciência, incluindo a coordenação do mesmo. O curso será ofertado em rede, contando com a participação de mais sete universidades de quatro regiões do país. Entre os parceiros estão o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Outro exemplo de sucesso é o Edital Feira de Ciências – Escola Azul 2023, que premiou 103 jovens com bolsas de iniciação científica e 15 professores com bolsas de apoio técnico do CNPq e foram criados 15 Clubes de Ciência em Cultura Oceânica, distribuídos pelas cinco regiões do país.
Fórum dos Clubes de Cultura Oceânica - Escola Azul: Encontro realizado em outubro deste ano, em Brasília, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e Premiação O2 2021: Cerimônia realizada durante o evento Diálogos da Cultura Oceânica, em Santos, no mês de junho de 2022.
👩🔬 Meninas e Mulheres na Cultura Oceânica
As discussões globais da Agenda 2030 e da Década do Oceano reforçam a importância da diversidade, equidade e inclusão para alcançar o desenvolvimento sustentável. Nesse cenário, o projeto Mulheres na Ciência, do Programa Maré de Ciência, tem inspirado e empoderado meninas e jovens mulheres na cultura oceânica com foco especial em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Desde a primeira edição da O2, a linha transversal "Mulheres na Ciência" tem se destacado ao promover trabalhos liderados por meninas e mulheres com premiações específicas e ações como a concessão de 100 bolsas de Iniciação Científica Júnior (ICJ), 60% delas para meninas, incentivando suas trajetórias científicas. A ação Meninas Cientistas da Maré, por exemplo, foi realizada na região de palafitas de Santos (SP), com apoio do British Council e da Fundação Carlos Chagas. Esse projeto incentivou meninas a explorarem o ambiente em que vivem, protagonizando ações de ciência cidadã que avaliaram a saúde ambiental do bairro. Agora, vamos expandir a rede de Clubes de Ciência em Cultura Oceânica, integrando discussões de gênero e promovendo o potencial das meninas em STEM nas ciências do mar. O projeto Meninas STEMar: Clube de Cultura Oceânica Escola Azul, financiado pelo CNPq com mais de 1 milhão de reais, expandirá nacionalmente a rede de Clubes de Ciência em Cultura Oceânica, formando Jovens Embaixadoras do Oceano.
Laboratório de Empreendedorismo, Gênero e Sustentabilidade: Atividade realizada no âmbito do evento Diálogos da Cultura Oceânica, ocorrido em Santos, em junho de 2022.
💡 Como Você Pode Fazer a Diferença?
O futuro do planeta depende de nossas ações hoje. Independentemente de onde você esteja, você pode contribuir para proteger o oceano.
🌊 Proteger o oceano é proteger o futuro. Junte-se a essa jornada e faça parte dessa transformação! ✨
Tatiana Martelli Mazzo é professora no Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), integra a equipe do Programa Maré de Ciência. Lidera e participa de projetos interdisciplinares que promovem a cultura oceânica, o letramento científico e a ciência cidadã. Dedica-se à educação científica de crianças e jovens em ambientes formais e não formais de ensino, inspirando a conexão com o oceano e a sustentabilidade. À frente do projeto Mulheres na Ciência, dedica-se a fortalecer o papel feminino na ciência e na sociedade, enquanto impulsiona a popularização do conhecimento científico e promove a cidadania ativa, tornando a ciência mais acessível, inclusiva e transformadora.
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